ANTA

ANTA
Portugal

sexta-feira, 1 de junho de 2012



Esta pesquisa será apresentada na forma de relato. Não buscarei em sua apresentação a forma de trabalho científico, mas procurarei apresentar um relato claro e rigoroso, compatível com uma pesquisa científica.

O ponto inicial da pesquisa foi uma pergunta simples, sem pretensões, curiosidade. No entanto, foi se tornando cada vez mais volumosa a quantidade de informações em torno de sua resposta.

Tudo começou com a viagem de um ex‑aluno meu para Portugal. Como nessa época eu estava envolvido com estudos de mitologia e arqueologia relacionada ao mito, e ele me perguntou sobre pontos de interesse arqueológico para direcionar seu roteiro de viagem, sugeri os túmulos megalíticos portugueses. Emprestei‑lhe um livro sobre o assunto, onde ele encontraria mapas com vários sítios. Ao regressar ele me convidou para uma amostra das várias fotografias que havia tirado na viagem. Foi numa dessas fotografias que vi uma palavra que me provocou a curiosidade. A palavra anta. Em Portugal os túmulos megalíticos são chamados de antas. Ao ouvir essa palavra um biólogo visualizará imediatamente o animal tão conhecido da fauna brasileira que recebe o mesmo nome. Eu já havia lido esse nome em associação com os túmulos megalíticos, no entanto não me questionei a respeito, mas naquele contexto, com muitas fotografias, apresentando diversos ângulos do assunto, a pergunta apareceu. Qual é a relação existente entre o nome do animal e o do túmulo megalítico? Por que um túmulo seria uma ANTA ?

Chegando em casa eu abri o Lello Universal e encontrei cinco verbetes para a palavra anta.

ANTA 1, s.f. (lat. anta) Monumento megalítico, formado de uma pedra horizontal sobre outras mais pequenas e verticais. Dólmen, os dólmens, mais numerosos na Bretanha, mas que se encontram também na Argélia, na índia e no Japão, Península Ibérica, etc. eram provavelmente sepulturas. Pilastra angular. Monte de terra que servia de demarcação.

Anta do Mezio, monumentos megalíticos conhecidos por Antas da Serra do Soajo, Parque Nacional da Peneda-Gerês, Portugal.
ANTA 2, s.f. Proboscídeo paquiderme da América do Sul. A pele deste animal. Nome vulgar do tapir. V. tapir.

Tapirus terrestris (Linnaeus, 1758), Ordem Perissodactyla. Conhecido popularmente como ANTA.


ANTA 3, s.f. ling. Língua de índios. fam. tupi‑guarani, falada ao S. de Portel, Pará, Brasil.

ANTA 4, deusa egípcia; cobre‑lhe a cabeça a mítra ornada de duas penas. Tem numa das mãos uma clava e na outra uma lança e um escudo.

Representações da deusa egípcia ANTA. Essa deusa foi cultuada no Egito no reinado de Thothmés III (15 séc. a.C),onde tornou-se filha de Ra.


ANTA 5, (S.Martinho), freg[uesia]. do conc[elho]. de Espinho. dist[rito]. d'Aveiro, Portugal; 2.170 h.

O fato da palavra anta existir no latim me causou admiração, pois como já coloquei, para um biólogo, uma anta é um animal da fauna brasileira, que não existe na Europa e que provavelmente teria um nome de origem indígena.

Consultei outro livro, Von lhering em "Da vida dos nossos animais", na p.52, escreveu que "A palavra "anta" parece ser de origem árabe (designando um cervídeo sem galhada). "Tapir" é seu nome tupi e "mborebi" em guarani". Diante dessa descoberta, ou indicação, a coisa se inverteu na minha cabeça. Então a anta brasileira tem um nome importado, provavelmente trazido por europeus colonizadores. Talvez por portugueses ou espanhóis, pois a palavra parece ser de origem árabe.

Consultei outros dicionários e encontrei que a palavra anta deriva do árabe lamt e que existe no espanhol com o sentido de: Anta, f. (zool.) anta, alce; (arq.) anta, menir, pilastra, dólmen. Alguma coisa começava a se esclarecer. Se o alce é chamado de anta na Espanha, provavelmente, espanhóis colonizadores vendo o tapir confundiram-no com a fêmea do alce, a qual não possui chifres, e tem o hábito de frequentar os rios, além de possuir como o tapir um focinho recurvado para baixo, característica que a distingüe de qualquer cervídeo europeu.

A princípio, me pareceu fácil compreender a confusão, pois os colonizadores não conheciam quase nenhum dos animais americanos e começavam fazendo empréstimos de nomes europeus para os animais daqui, como aconteceu com o gambá que foi chamado de raposa, o urubu de corvo, etc.
No entanto, a palavra anta (=alce) não pode ter entrado no espanhol por via popular pois esse animal não é encontrado em estado selvagem na Espanha e em nenhum dos países do Mediterrâneo.

"A palavra alce (lat. alce, alces, ac. alcen, pl. alces veado das regiões nórdicas) é de origem germânica [alk], mencionada por César. BG, VI, 27: Plínio, VIII, 39; pelo geógrafo Solino, XX, 6, e por Pausânias, V, 12; lX, 21, que lhe dá a forma", Augusto Magne.

Dicionários etimológicos registram o seguinte; "Ante, "ruminante parecido al ciervo" do árabe hispânico lamt; lamt e lamti em vários autores medievais. Schuchart, Roman. Lehnw. im Berb, 79-80, assegura que a forma originária é ante e que por aglutinação parcial do artigo árabe deu lamt (que é a forma documentada)", Coruminas.

ANTA1, s. zool. Do ár. lantâ, nome de unidade de Lamt animal do gênero dos antílopes; Dozy, Glossaire, s.v.; Steiger, pp. 158-177; Cenival-Monod, na ed. de Valentim Fernandes, Description de la côte d'Afrique de Ceuta au Senegal, p. 159; pelo esp.? L.V., Lições2, p. 252 nota. Em 1506-1507, "As mercaderias que trazẽ os mouros da terra firme som, escrauos pretos de Guynee, ouro, pelles dantas..." V. Fern., p.45. Como designação do tapir, creio tratar-se do mesmo voc. com sentido alargado; para abonação, vj. s.v. tapir ".

No Oxford English Dictionary: Ante [a Sp. ante, also dante ad. Arab. ط ـ هر Lamt, some animal of the antelope or buffalo kind, 'el Dante, que los affricanos llaman Lamt' (Marmol, in Dozy). Its skin is called in Arab. ad-daraca lamt, corrupt in Sp. adaraga dante, adarga de ante, whence dante, ante. for the animal].

[1598 Florio, Ante - a wilde beast in India as big as am asse with round eares, with the neather lip like a trumpet, never going but by night].
No Lello Univ. encontrei Danta, "animal da Sibéria", e num Dicionário Galego-Espanhol, Ante - s.m ante, búfalo.

Diante desses dados pude concluir que a palavra entrou no espanhol como lamt e no português como danta[s] mas com significados variados, antílope, búfalo e ruminante parecido com o cervo (não incluindo alce que aparece em dicionários espanhóis atuais) aparentemente só conhecido através de peles provenientes da África trazidas por árabes. Em dicionários árabes atuais ط ـ هر [lamt] é o verbo estar furioso, não um nome de animal.

Danta, animal da Sibéria (português) poderia referir-se ao alce, mas a associação não está clara e certamente é livresca, assim como a associação com o alce no espanhol.
Certamente as peles vindas da África não podem ser de alce, o que faz com que essa atribuição ao nome anta seja errônea e livresca. As peles poderiam ser de antílope, búfalo ou de outro cervídeo como o cervo (Cervus elaphus). Quanto ao animal citado por Florio, 1598, Ante, poderia ser um tapir da Malásia, se a palavra índia for interpretada no sentido da época (1598) e se este escritor errou quando citou: '"with the neather lip like a trumpet", teria que ser lábio superior e não inferior. Se fosse dessa maneira a descrição só poderia ser de um tapir da Malásia e portanto de uma verdadeira anta (no sentido mais comum atual), o tapir. A relação entre ante e alce é complicada e vejo com interesse os termos: holandês, Eland; germânico, Elend e o francês, Élan: alce.

Talvez o esclarecimento dessa confusão venha por via indireta e voltarei a abordá-la. Mas por enquanto voltarei à questão principal deste relato: Por que um túmulo megalítico é chamado de anta?

Em Portugal e na Espanha (Galícia), o que se chama de anta é visto atualmente pelos arqueólogos como um tipo de sepultura do período neolítico. Essas sepulturas e outros tipos de monumentos como menires, círculos e alinhamentos de pedras, são denominados em conjunto “monumentos megalíticos”. As antas são mais comumente chamadas de dólmens e caracterizam-se por um arranjo de três ou quatro pilares de pedra rústica encimados por uma laje achatada, formando um conjunto semelhante a uma mesa (Fig.1). Muitos desses conjuntos encontram-se atualmente desenterrados, mas na época em que eram utilizados como sepulturas estavam cobertos de terra, tendo a aparência de uma pequena colina. Essas sepulturas são encontradas principalmente nas ilhas britânicas, na França, península Ibérica e sul da índia. As mais antigas foram construídas há aproximadamente 5000 a.C. na Europa Oriental. Acredita-se que, assim como o trigo, esse tipo de sepultura tenha se originado no Oriente próximo, tendo se desenvolvido a partir das sepulturas escavadas em rocha, construídas pelos povos agrícolas dos princípios do neolítico. Essas construções eram túmulos coletivos onde depositavam-se os descendentes de um determinado clã. De acordo com vários autores esses clãs cultuavam uma deuse-mãe-terra que representava a ancestral mítica do grupo. "Na ilha de Arran na Escócia, cada túmulo parece estar associado com um pedaço separado de terra arável e pode ter sido a tumba dos habitantes que aí viviam, servindo para legitimizar seus direitos de descendentes sobre esses pedaços de terra"..."Em alguns casos, o tamanho dos montes que cobriam o túmulo sugere que podem ter servido como plataformas de templos ou marcos territoriais", Atlas of Archaeology , Times Books.
Marija Gimbutas estudou esses túmulos e sua associação com o culto da deusa-mãe européia dos povos do período neolítico, concluindo que cada um desses montes representava o ventre da mãe-terra de onde vinham todos os homens e para onde voltavam. A disposição das pedras e as subdivisões internas sugerem que a câmara principal representava o útero da terra-mãe, o corredor a vagina e a pedra perfurada da entrada a vulva. A quantidade de detalhes apresentados por ela e por outros pesquisadores é impressionante. Estou tentando apenas resumir alguns aspectos do tema, pois inúmeros volumes já foram escritos a esse respeito. Grande parte dessa bibliografia pode ser encontrada em seu livro "The language of the Goddess", 1989.

Anta é também o nome de uma deusa egípcia. Essa deusa foi cultuada no Egito no reinado de Thothmés III (15 séc. a.C), onde tornou-se filha de Ra. Tem sido identificada com outras deusas semíticas que como ela também eram deusas da guerra, como por exemplo: Anath ou 'Anat (canaanita), a "rainha do céu", "senhora dos deuses"; Anthvt e a posterior Antaeus ambas fenícias; Athena no período helenístico; Anahita no mito zoroástrico; conhecida como Anaitis, Anthat e Anthrathi. Em Ugarit Anat era considerada como Deusa do Amor e da Guerra. Estudos realizados sobre essas deusas da guerra do tipo Athenas, Anta, lshtar, etc. mostraram que estas são descendentes de um dos dois aspectos da grande deusa-mãe pré-histórica (deusa da Vida e deusa da Morte). Anta sendo uma deusa da Guerra é descendente da deusa da morte neolítica, isto poderia explicar a denominação (anta) dos túmulos neolíticos, pois se os estudos já citados correspondem a realidade, Anta seria um dos nomes do seu aspecto mais terrível: deusa da Morte. Isso explica sua ligação com as tumbas, já que a tumba é o próprio corpo da deusa. Portanto, a denominação anta aplicada aos dólmens e aos montes de terra que serviam de demarcação, citados acima (Lello Univ., Anta1), podem ser explicadas por essas pesquisas.

Até agora vimos que existe uma certa confusão em torno do nome do animal anta, mas que sua origem não está no novo mundo,  que os túmulos megalíticos estão relacionados a marcos territoriais e a deusa Anta pode ser considerada com uma transformação da própria deusa pré-histórica, antes deusa da morte mais tarde deusa da guerra.
O estudo comparativo das línguas indo-européias vem mostrando que muitas palavras reconstruídas podem apontar caminhos para a pesquisa arqueológica, assim como corroborar hipóteses lançadas por arqueólogos ou por estudiosos de mitologia comparada. Neste relato apresentarei uma série de palavras de grande importância para o esclarecimento desses estudos.

Por exemplo, no Benfey's Sanskrit Dictionary os significados atribuídos à palavra āntah se enquadram perfeitamente no contexto dos túmulos megalíticos mesmo não tendo por si mesma o significado de túmulo. Em sânscrito āntah significa: limite, fronteira; fim; proximidade, vizinhança; lado, borda; morte; um nome do deus da morte, Hitopadesha 9,6.

Como vimos acima, na Escócia os túmulos parecem funcionar como marcos de limites, em Portugal montes de terra usados para demarcação são chamados de antas, e ficam no fim do terreno, na borda, na vizinhança e sua ligação com os túmulos neolíticos e com a morte é óbvia. O fato de anta ser um deus e não uma deusa da morte pode encontrar explicação nas diversas substituições patriarcalistas de deusas da morte por deuses da morte ou da guerra, Nergal na Babilônia substituiu Ereshkigal (tornando-se seu esposo); Hades também se casa com Perséfone (antiga deusa da morte); Ares suplantou Enio "a devastadora" dívindade guerreira (mais tarde Enio tornou-se sua filha); Marte, antes deus da vegetação, tornou-se deus das batalhas associado à deusa Belona (sua esposa, às vezes irmã ou filha).

No Etymologisch Wörterbuch, Kluge, : Ende- (ant. alt al.) enti, (ant. sax.) endi, (ant. fris.) enda, (ant. nl ant. gs.) ende, (ant. nord.) ende(r), (got.) andeis conduz à al *andja- proveniente de al *antjo- no lat. antiae, sansk. ántah m. - fim, fronteira, margem, borda.

No Romanisches Etymologisch Wörterbuch, Meyer-Lübke : Anta- "Turpfosten" (umbreira, couceira, umbral); catalão antares, port. (minhoto), anteiras- "Marksteine" (marco, baliza de terra, sinal).

Em Galego anta significa - marco de pedra, borda, término, limite, linde.

No Latim anta - pilastras quadrangulares ou colunas, na frontaria de edifícios, embebidas em parte na parede e colocadas aos lados das portas; barbacã, contra-forte, esporão (Magne); talvez pilastras derivadas dos pilares de pedras que suportam a grande laje das antas (túmulos) (Fig.1). Segundo Magne "tem correspondentes no ramo indo-iraniano e no antigo nórdico ond, antecâmara. É palavra antiga, pois ocorre na Lex Puteol. do ano 105 a.C.".

No Romanisches Etymologisch Wörterbuch, Meyer-Lübke : anta, também aparece como "FIugelture" (porta de dois ou mais batentes), no irpinat. antila, corso antula; e "Sagebrett" (prancha de serra) no sicil., calabr., piemont., lombard., log., anta. venez. lamta sob o engad. anta. No caso de "Flugelture" talvez relacionado as pilastras já citadas no lat. anta; em "Sagebrett" a relação deve ser com a laje plana (prancha) que está no topo do túmulo.

A anta (túmulo) é o lugar dos antepassados, onde estes eram adorados e identificados com o ancestral do clã, lugar frequentado por espíritos. As palavras relacionadas a esse aspecto são: português ante (lat. antea - antes, anteriormente, precedentemente; port. antanho esp. antario- antigamente; ingl. ancient- ancião, patriarca, ancestral; franc. ancien- antigo; port. hontem, ontem". Ao latim ante corresponde o gr.anta, anti ; o sansk. ãnti- diante, perto; e o germ. ant-, ent-" (Augusto Magne).
O hitita hant, hanza e o tocariano antus também são correspondentes- anterior, frente. O ant. islandês andi- alma, espírito.(Engl.Wordbook).

No Dictionnaire des racines des langues européennes,  R. Grandsaignes D'hauterive - Larousse, aparece a raiz Ant- pato. O estudo que realizei a partir dessa raiz, foi sem dúvida o mais frutífero e recompensador de toda a pesquisa. Nesse dicionário aparecem algumas palavras que explicam a raiz: (véd.) atih, (gr.) nètta (por natya), (lat.) anas, anatis, (ant. fran) ane, anet, (esp.) ánade (it.) anatra, nitra, (ant. alt. al.) anut, (al.) Ente.

Para alguém que não estuda mitologia ficaria difícil relacionar a palavra pato com os tümulos do neolítico ou com a deusa-mãe, porém de acordo com M. Gimbutas, o pato representa a principal epifania da deusa-pássaro, que apresentava dois aspectos (vida e morte), como deusa da vida trazia sorte, saúde e alimento. Mas apesar de ser considerado como principal, o pato pode ser substituído nessa função por outras aves aquáticas semelhantes, como o ganso e o cisne, ou por aves como a garça, a cegonha, etc.

Todas essas aves são migratórias e algumas delas, com suas aparições, anunciavam a primavera, que para os primitivos europeus representava a deusa da vida, trazendo sorte, saúde e alimento. Os ovos que hoje são tão facilmente encontrados, só estavam disponíveis na época de nidificação, quando as aves migratórias voltavam. A primavera é a época do acasalamento de toda natureza e as aves representavam esse momento. As cegonhas trazendo bebes e os ovos de Páscoa vêm daí.
Particularmente os patos e os gansos anunciavam o inverno no sul da Europa, pois migram do norte para o sul, relacionando-os por isso ao aspecto deusa-da-morte da grande deusa-mãe. Como epifania da deusa-da-morte, o pato certamente recebia o seu nome: anta.

Se nós tomarmos anta por raiz de pato, encontraremos semelhanças interessantíssimas. Por exemplo: cegonha em provençal e em catalão - ganta e ganso em latim - ganta, gansa; cegonha em francês antigo - janta; ganso em basco antzar; pato em engad. anda; pato em alemão Ente ['ent]; cisne em sansk. hamsah.

A finalidade desse jogo de palavras é mostrar que a raiz de todas essas palavras é a mesma. Pois de acordo com um raciocínio externo à filologia, esses nomes não representavam essas aves, mas a deusa-mãe e esse tipo de conclusão fornece um dado precioso ao estudo das raizes lingüísticas. Pois a partir desse raciocínio eu lancei uma hipótese e testei. Os resultados foram surpreendentes.

- Deveria existir um som aspirado antes da palavra anta. Que deu hamsa e gansa. Talvez funcionasse como um artigo alternativo, pois o basco tem antzar e o latim anser. A diferenciação veio depois, o ganso ficou com a aspiração inicial o pato não. O lat. anser significa tanto ganso como pato, o mesmo se dá com o (esp) ánade, que além desses significados é também cisne e marreco. A distinção não existia, pois o (médio island.) geis é pato e cisne. hamsa também significa ave aquática, cisne, flamingo, ganso.

- O N era o ponto fixo que segurava a raiz.

-O T deveria ser pronunciado como um th, que deu s, z e d (gander inglês) a alternância t>d aliás é bastante comum. A alternância sonora t e s também é bem conhecida (ex. gr. Talassa, talatta ; Lat. natio>nação).

A reconstrução deve ser algo como *ghantha. No Dictionnaire des racines des langues indo-europeenes (1949) a raiz hipotética de ganso é *ghans (que não inclui o pato) baseada em (skr.) hamsáh pássaro aquático; (gr.) khén, khênos, ganso; (lat.) anse por hanse, ganso; (esp.) ansa ; (ant. alt. ai) gans; (esp.) ganso, -a; (frigi.) goose; (ai.) gans.

Uma vez de posse dessa idéia parti para o teste. Procurei em diversos dicionários de línguas derivadas do indo-europeu e também no basco, palavras não compostas que possuíssem um grupo -nt- ou -nd- central e começassem por um aspirado do tipo gh, podendo ser g, h, gr, gh, kh, k ou r.

1o conjunto Anta: fronteira, limite, borda

(al) Rand - beira, orla, borda
(al) Grenz - fronteira oficial, divisa, limite.
(al) Kante - beira, margem, borda.
(ingl.) hinde - v. t. ser obstáculo ou impedimento
(al) hinder - idêntico ao inglês
(al) hinderse - (derivada) - obstáculo
(ai.) hindern (derivada)- prevenir alguém de fazer algo.
(ingl.) hint- advertência, aviso, sinal.

2o conjunto Anta: raça, povo, tribo.

(basco) enda- casta, raça.
(port) gente.
(romeno) ginte- raça, nação
(lat) gent-is - gente, povo, nação, descendência vil, sem nobreza; mouros, etíopes.
(gr.) génos - raça, povo, geração.
(ingl.) kind - raça, grupo natural, classe.
(al.) kind - criança (descendentes).
(iraniano) Zantu tribo.
(bantu) -ntu - gente.
(Madagascar) anta – gente, povo.
Anthro e Andr - que significa homem ou humano.

O português quinta é aparentado, significa terra de semeadura, herdade; lugar onde vive a gente, (por extensão). Esse conjunto representando o grupo, a tribo que na sua totalidade se identificava ao demiurgo que originou toda a gente por multiplicação (na mente primitiva duplicação: mãe e filho).

Os indivíduos também receberam a mesma denominação do grupo.

3o conjunto Anta: camponês, agricultor

(Ingl) hind - um camponês, pessoa rude, servo; camarada (de lavoura).
(Port) gandarês - camponês dos arredores de Coimbra.
(Skr) antya-ja - nascido na classe inferior, um homem ou mulher da tribo mais baixa.

4o conjunto Anta: Terra: a Grande

A terra é o lugar, o mundo, representa a origem dos seres vivos (plantas e animais), é a deusa-mãe-terra. Ela é : a grande.
(damasco) Andi- grande
(basco) Andra- senhora
(ant. franc.) grand - grande
(prov.) gran(t)z - grande
(esp. port. lt.) grande - (encurtado para gran)
(lat) gandan - crescido, grande.
(ingl.) Grand - no sentido de chefe, grande, principal, epíteto de pessoa famosa. (ingl. ant) grund, (ant. frisão), ant. saxão, grund, (médio holandês) gront flexionado grond-; holandês grond; ant. alt. al.) grunt, krunt; (méd. alt. ai.) grunt, grunt-; (ai.) gruina; (gótico) *grundus (cf. grundu-waddjus = fundação, base; afgrundipa: abismo): (ant. teutônico) *grundu-z- pré-teutónico * ghrņtús; nenhum cognato é conhecido fora do teutônico. O equivalente formal não é encontrado no ant. nórdico, o qual tem todavia grund (f.) (declinado como o tronco -i-) “terra , planície”, e um tipo cognato (teutônico) *grumþo : pré-teutónico ghrņto- no grunn-r, gruđ -r (m.) fundo, grunn-r adj. raso, pouco profundo, grunn (neutro) raso, (dinamarq.) grund- fundo, parte inferior, raso, (sueco) grund, fundo, fundação, chão, terra. (Oxford Eng. Dict.)

5oconjunto Anta:  mamífero de chifres da Europa e imediações

(al.) Rind [rint] - boi, vaca, gado
(ingl.) hind- fêmea do veado (Cervus elaphus)
(galego) gando, ganado - nome genérico de toda a classe de bestas mansas de uma mesma espécie que se apacentam e andam juntas. Particularmente para o gado vacum.
Equivalentes ao (ingl) antler- chifre, corno. (esp) ante, anta- alce (galego) ante- búfalo, alce.

Esse quadro revela um ponto muito importante abordado anteriormente: a relação anta-alce.

Observamos que vários mamíferos de chifres estão ligados ao nome anta, e a confusão já focalizada parecerá mais clara agora. Mais uma vez M. Gimbutas será citada, de acordo com essa autora a fêmea do alce é uma epifania da deusa-mãe, assim como a fêmea do veado. A associação da deusa com touros, carneiros e bodes também é conhecida. O carneiro é o animal sacrificial de deusa e o mais antigo associado à ela. O touro e o bode estão ligados à sua fecundidade. Os signos zodiacais ligados ao elemento "terra" são, o touro, o capricórnio e a virgem (a deusa). O (galês) *andera, "mulher jovem", tem o masculino *anderos: "bode jovem"ou "touro jovem".

Os nomes: (holandês) eland; (al.) Elend e o (francês) elan - alce, mostram um padrão interessante, possuem el ligado ao nome da deusa. Essa partícula assim como a aspirada gh parece ter uma função de artigo e se alternam entre si. A seguir mostrarei alguns conjuntos com essa altenância, onde o el- aparece como l- ou supostamente 'l-.

6o Conjunto Anta: charneca, terra inculta, deserto

(basco) landa - campo plano, pradaria.
(esp) granda, gándara - gândara (= esp. landa nas poesias de Pondal)
(port.) gândara - charneca, terra arenosa, estéril. Terreno despovoado, mas coberto de plantas agrestes. (provincian.) Chama-se também, quando o rio Mondego vai muito seco, ao terreno que está descoberto. Pedaço de esteva seca, que o gado vai derrubando ou que ficou nas bouças depois de ter ardido o mato. gandra (essa palavra é tida como derivada do baixo lat. gandera)
(galego) landeira- azinhal, sítio ou terreno povoado de azinheiros.
(it.) landa- campina; charneca; mata fechada; terreno inculto.
(galego) gandra - parte lenhosa que cai das retamas, queimadas, gándara.
(galego) gándara - terra baixa, inculta e cheia de ervas daninhas. Terreno deserto, terreno extenso, geralmente estéril, pois só possui tojos (uma planta espinhosa) raquíticos. Porção de terra plana e pantanosa.
(esp.) landa - grande extensão de terra plana com plantas silvestres (tida como proveniente do basco landa), charneca, terreno baldio, charneca arenosa, gãndara, landre, landra.
(fr.) lande - landa, região arenosa e pantanosa da França. (céltico) *landa lugar plano e deserto.
(ingl. ant.) land [lnd], (ant. frisão) land, lond, (ant. sax.) (holandês, LG) land, (ant. a. al.) lant, (med. a. al.) lant, land-, (al.) land, (ant. nórdico), (sueco, dinamarquês) e (gót.) land, (ant. Teut.) *landom, cognat. com (ant. céltico) *landa (irlandês) Land, lann - cercado, recinto; (galês) llan- cercado, recinto, igreja; (córnico) lan, (bretão) lann - charneca, de onde o (fr.) lande- charneca, terreno turfoso. O pré- teutônico *londh- não é evidenciado em outras línguas "arianas", mas uma variante apofônica *lendh- aparece no Ant. Eslavo, ledina- charneca, deserto; (russo)  ляда, лядина, e no (médio sueco), (sueco) linda- deserto, terra inculta.  (Oxford Engl. Dict.)

Essa altemância entre 'l- e gh- presente no 6oconjunto está presente igualmente no 1o, 3o e 4o  conjuntos, por exemplo:

No 1o conjunto Anta: fronteira, limite, borda

(port.) linde, linda- estrema, raia, limite, marco que divide os campos uns dos outros.
(esp.) linde, lindero, lindo, lindazo- linde, limite.
(galego) lindeiro, -ra - faixa de terra sem lavrar que separa as herdades aráveis que pertencem a donos distintos.
(galego) lándoa - pedaço de terra que fica sem arar por achar-se nos limites. Fração de terreno separado do resto, que com ele formava um todo,
(galego) gandarou - monte alto que se eleva no final de uma gândara, do qual se avista uma planície mais ou menos extensa. Cume que ás vezes separa duas freguesias.

No 3o  conjunto Anta: Camponês, agricultor.
(prov.) landés, landeso - habitante das landes (na França). Semelhante ao (Port.) gandarês.

No 4o conjunto Anta: terra

(ant. prov.) landa, lana, lane;
(prov.) lando, (rouergat) londo;
(gascon) lanno, lano
(béarnais) lane; (baixo lat.) e (it.) landa- (bretão) lann, (saxão) land- terra.

Os túmulos megalíticos estavam localizados em terrenos alongados ou circulares e provavelmente esses terrenos eram mais secos, localizados em pontos mais altos, onde nascia apenas mato rasteiro, ervas daninhas e arbustos. Alguns nomes de plantas que habitam esse tipo de terreno também estão associados ao nome da deusa.

7o  conjunto Anta - ervas daninhas, plantas de terreno baldio.

(basco) landara- planta
(skr.) ãndhah- herva
(ant. fr.) ãder- papoula (poupée, madona)
(ant. fr.) ónder- umbigo de Vênus
(port.) granza, garanca - plantas rubiáceas empregadas como substância corante desde a mais alta antiguidade.

Os túmulos megalíticos eram cavernas artificiais. No paleolítico os templos e as sepulturas geralmente eram as cavernas naturais, o homem de Neanderthal enterrava seus mortos em cavernas. As cavernas representavam as entranhas da terra-mãe, eram o ventre, o seio, o útero. Antros e cavernas desempenhavam um papel importante nos cultos antigos, "a terra tem o poder de regenerar. Os homens eram enterrados como sementes para que pudessem renascer, assim era o pensamento do "homem primitivo".

8o  conjunto Anta: cavernas, o interior, em baixo de

(gr.) antron, (lat) antrum, (fr) antre, (port. esp.) antro - caverna
(ing.) haunt [ho:nt] - antro, guarida, refúgio, retiro; v. frequentar, visitar; (dial.) fantasma.
(skr.) antarâ- no meio de, rodeada de, entre.
(skr.) antara- o interior; buraco, cova, cavidade; distância, intervalo.
(gr.) enteron - o interior; intestino; ventre, seio, (de entos ) semelhante a endon .
(ingl.) under, (ai.) unter, untem- inferior, em baixo de.

As denominações espaciais também estão relacionadas a deusa-mãe-terra, o espaço, o lugar. "Grande número de palavras que designam a "terra" têm etimologias que se explicam por impressões espaciais - "lugar", "largo", "província"... "as divindades da terra eram mais propriamente as divindades do lugar, no sentido do meio cósmico envolvente", Mircea Eliade.

9o  conjunto Anta: O espaço, a posição

(ingl.) hind- posterior
(al., ingl) hinder - situado atrás.
(lat.) inter, (port.) antre, (gr.) en - entre
(gr.) entos - dentro de, de trás de.
(gr.) en - dentro, diante de, perto de, sobre.
(gr.) anta - diante, (lat) ante - diante de, antes
(gr.) endon - dentro.
(lat) intus, intra, intro, in - dentro 
(al., ingl.) in - dentro
(skr.) antar, antara- o interior
(skr.) antarâ - no meio de, entre, rodeado de.

A palavra alemã Ganz [gants], significa puro, sagrado, completo, inteiro, imaculado, inviolável. O (port) inteiro, enteiro: (esp) entero; ingl) entire; (it) intèro (séc. XIV); (fr) entier (séc. XII); (prov.) entier, entieyr ; (catalão) enter são tidos como provenientes do (lat.) inte-ger, -gri com deslocação do acento e redução do grupo intervocálico -gr-a-r. Talvez pudessemos explicar essas semelhanças de outra maneira: A Deusa.


Fazendo-se um resumo dos conjuntos encontrados temos:

1- o limite das terras cultivadas (marcado pelo túmulo).
2- a tribo.
3- o indivíduo.
4- terra, a Grande (epíteto da deusa-mãe-terra).
5- mamífero de chifres (as fêmeas são epifanias da deusa).
6- a terra inculta (os arredores da plantação, região do túmulo).
7- as ervas daninhas (que cresciam próximas ao túmulo).
8- a caverna (o próprio túmulo: representação da deusa).
9- o espaço, a posição (as relações espaciais).
10- as aves migratórias (pato, ganso, cegonha, etc.- epifanias da deusa).

Algumas raízes hebraico-aramaicas mostram certos paralelos com esses conjuntos:

אכש - gênero humano, povo, homem (como indivíduo).
אדם  - humanidade; homem (como indivíduo).
אדמה - terra (cultivável); solo, chão.
ארץ - terra, solo; gleba; país, território
אמה - tribo, nação, sem dúvida derivado de: אם - mãe; madrasta, avó.
אלף - clã; distrito; tribo; gado, bois.
-עמה - lugar, perto de, ao lado de.
עם - tribo, nação, povo da terra.

Esses paralelos mostram que as associações sugeridas nesta pesquisa poderão encontrar apoio em outras línguas (não indo-européias) e apesar de existirem raízes diferentes entre esses ramos linguísticos, é provável que nos ancestrais da raça branca certos campos semânticos já estavam definidos.

A sobreposição geográfica existente entre os povos da raça branca e o cultivo do trigo na antiguidade, indica que esses povos apresentam um conjunto de características culturais e genéticas adquiridas depois do seu isolamento parcial com relação às outras raças.

Os dados arqueológicos mostram que o trigo que ocorria naturalmente na região do chamado crescente fértil, onde era coletado intensivamente por volta de 9000 a.C., foi a partir daí introduzido na Europa e na direção leste até a Índia. A agricultura atingiu a região dos Balcãs no VII milênio a.C. e o sul da França em 5000 a.C.. Portanto, a agricultura praticada pelos povos europeus, com seus rituais característicos e culto da deusa-mãe, sempre foi, estreitamente relacionada com a dos povos do norte da África e do Oriente próximo. Assim, é de se esperar também uma ligação igualmente estreita entre as línguas faladas por esses povos. "Vários autores têm sublinhado notáveis semelhanças entre o indo-europeu e a família hamito-semita (por exemplo, nos nomes dos números, de parentesco, de animais, a ponto de poderem ser estabelecidas equações linguísticas regulares)". Lévêque, P. "As primeiras civilizações" p.126.

Certamente, um estudo mais aprofundado, da mitologia comparada desses povos, poderá contribuir de um modo significativo para um esclarecimento dessas raízes linguísticas. Separando os léxicos exclusivamente indo-europeus daqueles provenientes do substrato dos povos agricultores do neolítico. Por exemplo: recentemente M. Gimbutas apontou falhas no "sistema trifuncional" do importantíssimo Georges Dumézil. Nesta pesquisa e em outras realizadas nos últimos três anos (1992-1994), pude constatar que no tocante à mitologia dos povos indo-europeus relacionada à agricultura, as raízes dos léxicos associados ao sagrado formam agrupamentos determinados pelas consoantes dessas raízes, e se juntarmos esse fato a outro já focalizado como a presença de um provável artigo no começo de algumas palavras ligadas ao sagrado, temos aí um interessantíssimo paralelo com as línguas hamito-semíticas. Só para dar uma idéia de onde podemos chegar, o nome anta possui um centro em nt e o nome da deusa egípcia Net segundo Arthur Verslius, é um trocadilho com "ser" ou "existência", em egípcio "ent"  (ver figura abaixo),  O N em egípcio é (ver figura abaixo) e o T é (ver figura abaixo), água e lua. Esses dois símbolos são associados à deusa-mãe desde o paleolítico superior. O grego tem ont-os  [ontos] e o latim ent-is.

                                                               
Nesse momento a coleta de dados e apresentação destes chega ao fim. É claro que não se esgotaram as possibilidades de continuarmos a colecioná-los, mas é necessário neste ponto fazermos uma análise daquilo que foi apresentado. 

Partimos de uma questão inicial, saímos para uma investigação e obtivemos muitas informações. A questão inicial era a relação entre a anta (animal) e a anta (túmulo). Talvez essa questão tenha sido respondida. Anta (Ant) era o nome da deusa, os mamíferos de chifres, especialmente as fêmeas destes, eram iguais a ela: mães. O touro, o alce, o cervo e o bisão eram animais caçados pelos povos neolíticos, e certamente eram observados em seus comportamentos, pois representavam elementos importantes da dieta alimentar. Com exceção do urso esses eram os maiores animais terrestres conhecidos pelos europeus, o que os tornava muito evidentes no ambiente. Além disso, esses animais de chifre eram identificados com a lua, a qual "exerce um poder sobre a mulher controlando seu período menstrual e a sua gravidez." O período de gestação das fêmeas desses animais é aproximadamente o mesmo que o da mulher, portanto estariam igualmente sob o controle da lua. Existe grande número de fatos e relatos de que os povos europeus antes da perseguição religiosa por parte da igreja, utilizavam-se de cornos ou chifres em seus rituais de primavera.

A gironda (fêmea do javali) era igualmente associada a deusa, pois também era um animal muito importante. O port. gir-ond-a, é relacionado ao (ingl.) gr-unt-er = roncador, porco e ao (al.) gr-unz-en [gruntzen], (ingl.) grunt- grunhir, (esp.) gr-uñid-o - voz do porco, sugerindo uma relação com o nome da deusa.

Finalmente o túmulo, como já foi dito antes, representava o próprio corpo da deusa-mãe-terra.

Esse resultado pode não corresponder à verdade, no entanto é o que pode ser feito por enquanto. De qualquer maneira essa questão acabou gerando outras e durante a pesquisa uma informação, talvez mais importante, veio à tona. Os conjuntos de palavras aqui apresentados revelaram a presença de dois elementos fonéticos ligados ao nome da deusa: l- e gh-. O 'l- não pode ser explicado pela invasão árabe na Europa, em virtude de sua distribuição geográfica, pois é evidenciado nas línguas germânicas e eslavas. Evidências do som inicial aspirado gh- já foram encontradas no indo-europeu “antigo”.

"Dois grupos de línguas, muito particularmente, apresentam traços que testemunham um isolamento precoce dos seus portadores em relação aos indo-europeus: são as línguas anatólicas e os dois dialetos do tocariano... o aspecto essencial do estudo deste Indo europeu arcaico" consiste naquilo que hoje se chama a teoria "laringalista"... . Uma das implicações dessa teoria (Saussure, 1878), tendo em conta que o indo-europeu era uma língua essencialmente consonântica, é que todas as raízes que começam por uma vogal devem inicialmente ter tido uma quase consoante antes da vogal. A idéia não foi aceita de imediato - Em 1905, as escavações de Boghaz Kõy forneciam milhares de tabuinhas cuneiformes, escritas na língua local, então desconhecida, o hitita. E em 1927, cinquenta anos após o memorial de Saussure, J. Kurilowicz descobre nele o fonema inicial hipotético: várias palavras indo-européias que começam, nas línguas "clássicas", por uma vogal, são precedidas em hitita por um fonema transcrito por -h-: grego antí latim ante, sânsc. ánti: hitita hanti. "diante de"; grego ostéon, latim os, sânsc. ásthi: hitita hastai, "osso"; latim ovis, grego óis, sânsc. áivih, eslavo ovinu, ovica. lituano avîs: luvita haui, "carneiro" [o carneiro berbere (Ammotragus lervia) é chamado de “aroui” ar-oui].
Esse h- saiu evidentemente do  inicial de Saussure. Ao mesmo tempo estava confirmada a teoria deste grande linguísta, quanto à existência do e quanto ao seu caráter consonântico, e era dada uma preciosa indicação sobre a pronúncia do : tinha por base a região laríngea''. (Lévêque, P. "As primeiras civilizações", vol. III - Os indo-europeus e os semitas. pp 27-30).

Se o "antigo" indo-europeu apresentava, como diz Lévêque, esse tal som aspirado antes das vogais o nome anta com toda certeza também apresentava: veja o hanti hitita.